09/11/2021
Por Karine Wenzel
Com muita responsabilidade e envolvimento de diversas áreas e entidades. É assim que a Intervalor, um dos principais fornecedores de serviços financeiros no Brasil, começou a contratação de profissionais refugiados neste ano. Após muita pesquisa, diálogos com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e contatos com ONGs, a empresa iniciou a incorporação de pessoas refugiadas ao quadro de colaboradores e agora conta com uma nova operação para atender um cliente com atuação na América Latina, graças ao espanhol fluente dos venezuelanos contratados. A companhia avançou ainda mais no tema e, além de se inspirar e coletar informações na plataforma Empresas com Refugiados, tornou-se participante do Fórum Empresas com Refugiados.
A CEO da Intervalor, Stephanie Jerg, sabe da importância dessa medida. A venezuelana veio ao Brasil há nove anos e agora quer dar oportunidades para pessoas vindas do país vizinho, assim como de outras nacionalidades. A Intervalor pertence à Arvato Financial Solutions, multinacional alemã e que já aborda a questão da diversidade há muito tempo. Assim, o assunto entrou na pauta da companhia brasileira e Stephanie inclusive se tornou embaixadora de Diversidade da Arvato Financial Solutions no Brasil.
“O tema me toca profundamente. Com a crise da Venezuela, o fato de poder ajudar um pouco é muito satisfatório. O principal desafio é o idioma, por isso pensamos em começar a contratação na função de jovem aprendiz, porque é a base para entrar e crescer na empresa, além dos jovens terem mais facilidade com o idioma”, conta.
Em fevereiro deste ano, a Intervalor começou a realizar pesquisas e participar de eventos promovidos pelo ACNUR para entender mais sobre os documentos necessários e trâmites legais para contratação de pessoas refugiadas. Também buscou auxílio das ONGs, como Visão Mundial e Instituto Adus, para reunir mais informações e contatar as pessoas vindas de outros países. Outro ponto fundamental neste processo foi a capacitação e apoio de setores de recursos humanos, jurídico e liderança da companhia, que participaram ativamente do processo seletivo e passaram por palestras de sensibilização. Outra ação adotada foi a preparação dos colaboradores para garantir o acolhimento e integração dos novos profissionais, inclusive disponibilizando vídeos nos canais internos sobre o tema.
“Quando começamos a contratação de refugiados, falei para irmos devagar. Era algo novo e começamos a fazer para aprender. Pensamos ‘como podemos ser a melhor empresa para essa pessoa?’, para a partir daí fazer algo em escala e para outras nacionalidades. Mas é a melhor forma para não cometer erros e por respeito às pessoas, para que se sintam bem”, resume Stephanie.
O primeiro emprego e a busca por oportunidades
Como jovem aprendiz, os novos colaboradores passam pela mesma trilha de aprendizagem dos demais profissionais e têm acesso a uma plataforma corporativa com mais de 12 mil cursos, também disponíveis em espanhol. A primeira refugiada contratada foi a venezuelana Andrea Alvarez, de 19 anos, em abril deste ano. Há um ano e meio no Brasil, ela veio sozinha de Boa Vista a São Paulo e esse é o seu primeiro emprego formal no país. Atualmente, a jovem aprendiz auxilia na digitalização de documentos no departamento de recursos humanos.
“Eu vim para o Brasil para ajudar a minha família, eu era a que tinha mais chance de ter oportunidades. Sonho em morar sozinha, ter minha independência. Quero ter minha casa e meu trabalho. Estou me desenvolvendo bem aqui”, conta Andrea, que mora atualmente com dois irmãos na cidade de São Paulo.
Já a venezuelana Aeleen Morillo, 21 anos, está há quase quatro meses no Brasil, depois de morar um tempo no Peru com a mãe e duas irmãs. “Estou adorando a empresa. Temos um espaço aqui, não importa as diferenças, todos somos aceitos”, afirma a jovem, que sonha em estudar Letras ou Comunicação Social.
Ela foi contratada na área de Soluções Tecnológicas, em dois meses no emprego já demonstrou seu comprometimento e abriu as portas para a operação de um cliente da empresa na América Latina. Mudou de setor e sua mãe, Belkis Morillo, foi contratada em seu antigo posto. Recepcionista na Venezuela e formada em um curso técnico de Informática, Belkis estava desempregada e agora tem seu primeiro emprego formal, após quatro anos longe da terra natal.
Nova operação ganha força
Além de Aeleen, a operação da América Latina contará com mais 10 profissionais refugiados até outubro. Assim, a empresa irá somar 14 colaboradores venezuelanos nesta condição.
“Com a contratação, estamos oferecendo esse serviço em espanhol ao cliente. Isso abre espaço para o contratado e oportunidade para a empresa, os dois ganham. Queremos dar autonomia e valorização para que os refugiados também possam ajudar as famílias. Ganhamos pessoas que falam um outro idioma e que, neste caso, nos abriu uma operação nova com nosso cliente. Não estamos fazendo para cumprir nenhuma cota, mas porque acreditamos muito na diversidade”, acrescenta Stephanie.
Natálie Lima e Silva, gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Intervalor e uma das idealizadoras da iniciativa de contratação de profissionais refugiados, complementa que esse processo também despertou ainda mais a sensibilidade da empresa e dos próprios colaboradores. “Procuramos entender um pouco da vida social, como vivem as pessoas refugiadas, para avaliar como a Intervalor pode contribuir para o desenvolvimento dessas pessoas e de seus pares. Também percebemos a sensibilização dos outros colaboradores, eles procuram ajudar seus novos colegas”, pontua.
Participante do Fórum Empresas com Refugiados
A Intervalor quer usar essa experiência e todo conhecimento adquirido até o momento para ampliar a contratação de refugiados, inclusive de outras nacionalidades. Para isso, também quer priorizar ainda mais a troca de conhecimento, networking e inspirar outras empresas a começarem esse processo de acolhimento e contratação. Por todas essas ações, a Intervalor também se tornou empresa participante do Fórum Empresas com Refugiados em setembro.
“Esse envolvimento abre possibilidades. Assim, conseguimos fazer melhor, trocar com outras empresas. Podemos aprender muito e ver na prática como funciona a contratação. Com o pouco que caminhamos, já tivemos sucesso e estamos aprendendo ao longo do caminho. Espero que nossa trajetória sirva de inspiração para outras empresas”, finaliza Stephanie.
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