Sistema Fiep forma refugiados em curso profissionalizante gratuito
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- 1 de jul. de 2019
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Atualizado: 24 de mar. de 2021
Primeira turma recebeu aulas de panificação, português e matemática por um ano em Curitiba
Por: Yana Lima

Cresce o número de migrantes e refugiados que adotam o Paraná como residência. De acordo com dados do Governo Federal, o estado é o quarto que mais recebeu venezuelanos na interiorização promovida pela Operação Acolhida – 706 pessoas até maio deste ano. Nos primeiros cinco meses de 2019, o Centro de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas, órgão vinculado à Secretaria da Justiça, Família e Trabalho do Governo Estadual, registrou mais de 1,2 mil atendimentos para mais de 30 nacionalidades. A chegada dessas pessoas foi percebida pelas empresas e indústrias locais, que buscaram apoio da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), para saber como seria possível incluí-los em postos de trabalho. Foi a partir dessa provocação que o Sistema Fiep criou o Projeto Migrantes, que capacita e orienta homens e mulheres para inserção no mercado e facilita a adaptação social.
Em novembro de 2017, a iniciativa saiu do papel. Vinte e quatro migrantes estavam matriculados no curso profissionalizante de Panificação, que além das aulas técnicas, incluía também o ensino da língua portuguesa, matemática e a orientação de carreira. O projeto foi criado e conduzido pelas diferentes instituições que fazem parte do Sistema Fiep, cada uma responsável por uma fase da capacitação. O Serviço Social da Indústria (Sesi) oferecia aulas de língua portuguesa e matemática; o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) cuidava da qualificação profissional e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) orientava sobre preparação de currículos e a condução de entrevistas de trabalho.
“O Sistema Fiep atua com educação, pois acredita que esse é o principal caminho para promover a transformação social. A inovação, o empreendedorismo e a responsabilidade social formam cidadãos e atendem às demandas da sociedade. Como signatário e apoiador de plataformas globais de sustentabilidade, também é nosso compromisso facilitar o acesso do migrante ou refugiado à sociedade e ao mercado de trabalho, valorizando a diversidade e a pluralidade cultural”, comenta Maria Cristhina de Souza Rocha, gerente de Projetos Estratégicos do Sistema Fiep.
As aulas aconteciam na unidade do Sesi e Senai Portão, bairro da região sudoeste de Curitiba, duas vezes por semana. A Gerente local, Raquel Nascimento conta que a concepção do programa levou em consideração a disponibilidade e os horários dos participantes. Os cursos complementares de matemática e língua portuguesa tiveram a duração de 60 horas cada. Os professores fazem parte do quadro de colaboradores do Sistema Fiep.
“Sabíamos que a panificação era uma área que estava precisando e teria uma rápida absorção dessas pessoas no mercado de trabalho local. Temos uma boa parceria com Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Estado do Paraná (Sipcep) e abrimos a oportunidade. Para selecionar os alunos, contamos com o apoio de ONGs que estavam abrigando estas pessoas e de instituições sociais da Igreja Católica”, explica Raquel.
Abraçaram o projeto o Centro de Apoio ao Estrangeiro no Brasil e Exterior (Caebe), Cáritas Brasileira Regional Paraná, Centro de Atendimento ao Migrante (Ceamig), Associação para a Solidariedade dos Haitianos no Brasil (Ashbra) e Pequena Família de Irmãos Franciscanos (PFIF - Recanto Franciscano).
O curso teve a duração de um ano e a primeira turma formou 16 pessoas, entre venezuelanos e haitianos – metade homens, a outra, mulheres. A idade média desses alunos é de 33 anos. O mais velho tem 54 anos e o mais novo, 20. A equipe do Sistema Fiep organizou uma formatura diferente, para que os estudantes pudessem apresentar seus trabalhos a possíveis contratantes.
“Não costumamos fazer formatura, mas para esta turma nós fizemos. Eles prepararam as principais receitas que aprenderam no curso. Convidamos empresários, donos de panificadoras e representantes de indústrias de alimento para participarem do momento. Os alunos apresentaram, falaram um pouco de cada produto. As portas foram abertas ali”, relembra a gerente.
Empresas como a rede de supermercados Festval e as lanchonetes da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) contrataram egressos do curso de panificação. Segundo a Fiep, 70% dos alunos estão empregados no mercado de trabalho.
Colocando a mão na massa
Ronal Dieuseul Saint Amour foi um dos alunos formados no Projeto Migrantes. O haitiano de 39 anos veio para o Brasil em 2013 com esposa e quatro filhos – a quinta ficou no Haiti. Ao completar um mês no Acre, foi encaminhado à Curitiba. No país de origem ele trabalhava com pintura e vendas. Desde que se fixou na capital paranaense, fez alguns cursos de formação para se profissionalizar: carpintaria, teologia, segurança do trabalho, mas o que mais gostou foi o de panificação.
“Gostei de aprender a fazer pães e bolo. Fazíamos de tudo. Procurei serviço em panificação, mas só pude ficar três meses, por conta dos meus filhos. Nas padarias, os horários de trabalho são difíceis. Ou é muito cedo ou tarde da noite. Gostei muito de trabalhar nessa área, e quando estou sem serviço, como agora, eu posso fazer pão para ajudar em casa”, conta Ronal.
Ele e a esposa pensam em montar um negócio próprio para fazer pães, bolos caseiros e salgados, mas no momento não têm condições financeiras para alugar um espaço. Tentaram fazer encomendas e entregar nas casas dos clientes, mas o lucro era muito pequeno para sustentar a família.
O Sistema Fiep planeja abrir mais uma turma com 35 vagas para a capacitação de refugiados e migrantes ainda este ano, em parceria com a PUCPR. A ideia é explorar outras áreas de profissionalização e expandir para diferentes regiões do estado. O norte e nordeste do Paraná também receberam migrantes vindos do programa de interiorização, por serem regiões industrializadas.
Sistema Fiep é signatário do Pacto Global da ONU
O Projeto Migrantes fortalece o compromisso do Sistema Fiep com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) ao criar condições de integração do migrante ou refugiado à sociedade brasileira. Além da iniciativa, a organização oferece consultoria e promove discussões entre seus associados sobre temas relacionadas a Direitos Humanos. Em 2018, sediou um evento sobre a Nova Lei de Migração e um treinamento de Due Diligence em Direitos Humanos.
Em 2019, foi responsável por receber e promover o I Fórum Empresarial de Empregabilidade e Empreendedorismo para Refugiados e Migrantes, um importante momento de aproximação dessa população com o setor empresarial. O fórum foi realizado em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Rede Brasil do Pacto Global, Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O Sistema Fiep é composto por instituições que trabalham integradas em prol do desenvolvimento industrial. Realizam a interlocução com instâncias do poder público, estimulam o fomento de negócios nacionais e internacionais, a competitividade, a inovação, a tecnologia e a adoção de práticas sustentáveis. Oferecem serviços voltados à segurança e saúde dos trabalhadores, à educação básica de crianças, jovens e adultos, à formação e aperfeiçoamento profissional, à formação de nível superior, além de capacitação executiva.
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