03/01/2022
Por Karine Wenzel
Com a ajuda de amigos, o médico venezuelano Jesus Segovia chegou ao Brasil em 2018. Devido às difíceis condições socioeconômicas e a precariedade do sistema de saúde do país de origem, Jesus sentiu que não poderia prestar um bom serviço e decidiu recomeçar sua vida em solo brasileiro. Seu primeiro emprego foi na Foundever (na época Sitel Brasil, que fazia parte do Sitel Group, líder global em produtos e soluções de experiência do cliente de ponta a ponta). Depois de três anos atuando na empresa, muita coisa mudou. O profissional passou de operador para supervisor, com reconhecimento de melhor aluno no curso para gestão de pessoas. Hoje, ele coordena uma equipe de cerca de 30 colaboradores, sendo que metade deles veio de outros países. “Desde o início, na entrevista, os profissionais da Sitel foram super legais. As pessoas da empresa foram extremamente acolhedoras e compreensivas com a minha questão de estadia e do idioma e me deixaram muito à vontade. Sabia que era uma boa oportunidade, um salário que conseguia me manter e ajudar a minha família. Uma pessoa refugiada passa por um luto. Eu reconheci isso com o tempo, passei por depressão seis meses depois que vim para o Brasil, pois tive de deixar meus planos profissionais. Mas a empresa soube reconhecer minha capacidade e me ofereceu um plano de carreira”, reforça.
Hoje, o irmão de Jesus também atua na Sitel Brasil. Juntos, eles conseguiram trazer da Venezuela seus pais e o irmão caçula da família.
Iniciativas para acolher e integrar
Os três anos da atuação de Jesus na Sitel Brasil também foram transformadores para a empresa, que aperfeiçoou seus processos de integração de pessoas refugiadas colaboradoras. Adriana Wells, gerente de Recursos Humanos do Sitel Group, conta que a contratação de profissionais refugiados na filial brasileira começou em 2014, com a contratação de nove colaboradores, mas ainda sem um programa estruturado. A partir de 2019 a empresa começou a olhar para o tema de forma estratégica, construindo iniciativas para facilitar o onboarding (processo para integrar o novo colaborador à equipe), com o apoio das lideranças. Foram definidos processos para auxílio nas questões legais e de documentação - uma das maiores dúvidas para seleção desses profissionais. A companhia implantou ainda o “Indique um amigo”, que possibilitou a contratação de membros de mesmas famílias ou conhecidos. Atualmente, todos os treinamentos e processos de contratação são feitos em espanhol, língua materna de muitos refugiados, em especial os venezuelanos, pois as vagas costumam atender as operações para a América Latina.
“O processo seletivo é feito exclusivamente em espanhol. Assim, eles já se sentem ‘abraçados’ nesta etapa, antes de entrar na empresa, e isso favoreceu bastante o acesso aos conhecimentos dos candidatos. Em 2021, implantamos um programa de espanhol in company, no qual colaboradores que interagiam diretamente com refugiados passaram a ter aulas online de espanhol e isso também fez uma diferença fundamental na integração dos diferentes profissionais aos seus respectivos times”, explica Adriana.
A empresa ainda fez adaptações em alguns programas sob a ótica das pessoas refugiadas. Grupos focais em espanhol foram criados para acompanhar o processo de acolhimento dos contratados. “A gente sai do discurso bonito para a prática, porque realmente acontece uma inclusão. Deparar-se com essa mudança cultural é muito importante. Sabemos que tem um grande caminho pela frente, mas é muito gratificante ver que eles permanecem na companhia”, acrescenta Adriana.
Pessoas refugiadas representam 15% do quadro de colaboradores
A Sitel Brasil tem o apoio de ONGs como a Missão Paz de São Paulo, Visão Mundial e Tent Partnership for Refugees, além de igrejas. Essas instituições auxiliam nos trâmites legais para contratações e fazem a ponte para identificar possíveis candidatos e encaminhá-los aos processos seletivos da companhia. Com essa rede, a empresa atualmente conta com 731 pessoas refugiadas no seu quadro de colaboradores, o que representa 15% do total de funcionários.
A grande maioria (85%) é composta por profissionais venezuelanos e que trabalham em São Paulo. Outro dado importante é que 15% já exercem outra função na empresa, o que demonstra o crescimento desses profissionais e a valorização por parte da empresa. É o caso da venezuelana Eucaris Butto. Com formação em educação física, ela entrou na Sitel Brasil em março de 2019, sem nunca ter trabalhado na área de telemarketing. “A situação estava muito difícil. Não tinha comida no mercado e era tudo muito caro. O poder aquisitivo não ajudava, porque é muito difícil ter para cobrir as necessidades básicas”, conta.
Neste ano, Eucaris fez um curso na empresa e se tornou supervisora. Conseguiu ajudar financeiramente a família na Venezuela, que atualmente passou a residir no Brasil. “Gosto muito dos valores da Sitel, eles te dão oportunidades para crescer. Todo dia estou aprendendo algo novo”, complementa.
E os planos da Sitel não param por aí. A companhia é uma das empresas participantes do Fórum Empresas com Refugiados e, segundo Adriana, a meta é aumentar a amplitude do programa, com projeção de alcançar mil pessoas refugiadas contratadas até 2023. Outro plano é implementar o português in company, voltado para os profissionais cuja língua nativa é o espanhol, para promover ainda mais integração com esses colaboradores.
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