Instituto Techmail começou com a formação de jovens em vulnerabilidade e estendeu a oferta de cursos também aos refugiados
Por: Yana Lima
O mercado de seguros brasileiro apostou na diversidade. A Techmail, fundada em 1997, oferece serviços e soluções no processamento de atividades securitárias. Paralelo ao seu desenvolvimento econômico, a empresa trilhou uma jornada social e se tornou referência na capacitação de jovens refugiados.
A história começa com a motivação da fundadora da empresa, Suzana Opatrny, que criou em 2011 o Instituto Techmail, um centro de ensino dedicado à formação e capacitação de aprendizes para o mercado de seguros. Neste início, o foco era capacitar jovens em situação de vulnerabilidade de comunidades.
“Fundamos o Instituto com a finalidade de capacitar os jovens como aprendizes ou como estagiários, para que pudessem atuar no mercado securitário. O objetivo era empoderar o jovem para que ele saísse como cidadão e não apenas como empregado. Olhamos menos o capital e mais a humanização”, conta Opatrny.
O primeiro grande parceiro da missão foi a Escola Nacional de Seguros, que já desenvolvia um projeto de inclusão social chamado Amigos do Seguro. Segundo Opatrny, juntos, eles remodelaram o programa de ensino para adaptar às necessidades do mercado. Além das classes sobre o business, a grade também oferece aulas de teatro, comunicação não violenta, política, português, matemática, tecnologia, segurança da informação, entre outros.
Os cursos têm a duração de 193h e são executados no período de dois meses e meio. São totalmente gratuitos. O aluno se forma com a apresentação de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Em 2019, estão programadas cinco turmas e há lista de espera de 400 jovens.
O refúgio no Instituto Techmail
Com as aulas em curso, o Instituto começou a se tornar referência neste tipo de iniciativa social. Foi aí que o Grupo Segurador BB/MAPFRE procurou a Techmail e pediu se poderiam incluir dois jovens refugiados no quadro de aprendizagem. “Eles já entendiam que alunos refugiados iam requerer um atendimento e acolhimento diferenciado. E eles nos enxergaram como essa instituição. Essa foi nossa primeira experiência com refugiados”, relembra Opatrny.
Na sequência veio a associação ao Programa de Apoio para Recolocação de Refugiados (PARR), uma iniciativa da Rede Brasil do Pacto Global, ONU Mulheres, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Mulheres do Brasil e outras organizações do terceiro setor e privado. A primeira turma integralmente de refugiados foi formada em 2017. O PARR selecionou 30 alunos oriundos do Congo, Angola, Serra Leoa, Síria entre outros países.
“Foi aí que começou nosso desafio em relação às culturas. Os sírios, por exemplo, rezavam determinada hora do dia. Outros comunicavam-se em dialetos. Alguns não comiam certos alimentos. Como eles ficavam aqui das 8h às 16h, tivemos que nos ajustar à alimentação, ao estilo de vida. Na sala de aula tivemos que nos adaptar em relação às línguas, às roupas. Este primeiro programa foi um mundo de descobertas”, ressaltou a fundadora.
Após essa experiência, a equipe da Techmail optou por mesclar turmas de brasileiros e refugiados. Foi aí que perceberam que os ganhos eram exponenciais. O estrangeiro saía do curso com muito mais conhecimento sobre o Brasil e o jovem brasileiro se motivava ao conhecer as histórias de vida dos imigrantes. Os cursos foram ficando cada vez mais populares no mercado de seguros, que estava absorvendo estes profissionais. Segundo Suzana, a Techmail foi se tornando referência no assunto.
“É uma missão. Não posso deixar de dizer que essa oportunidade deu uma visibilidade para o Instituto que a gente não tinha antes. Com as turmas de refugiados, tivemos notabilidade, atraímos novas seguradoras interessadas”.
A opinião de egressos e gestores de refugiados na Techmail
Yundula Sebastião da Silva João tem 23 anos e veio de Angola com a mãe e mais sete irmãos. Ele é o mais velho e há três anos, quando chegaram ao Brasil, precisou assumir a gestão da família junto da mãe. Depois de conseguir escola para os irmãos e já familiarizado à nova terra, Yundula foi buscar oportunidades no mercado brasileiro e conheceu o Instituto Techmail.
“No começo [da busca de trabalho] senti muito preconceito por parte das empresas por não saberem quem eu era e qual o processo de contratação de refugiados. Procurava e não encontrava emprego. Percebi, então que precisava melhorar meu currículo. Estudei na B3 [Bolsa de Valores] e depois fui para o Cáritas. Lá eles me indicaram a BB/MAPFRE e acabei chegando até o Instituto. Fiz o curso e hoje trabalho aqui, na área que é minha paixão: tecnologia”, contou Yundula, que é estagiário da área de Business Inteligence da Techmail.
Márcio Teixeira Lacerda Cardoso é supervisor de automação da Techmail e gestor de Yundula. Ele conta que quando recebeu a notícia de que teria um estrangeiro na equipe, sentiu que seria um grande desafio, mas conhecendo o trabalho do Instituto, sabia que essa pessoa certamente chegaria bem preparada.
“Conversei com a equipe, fizemos uma reunião para falar sobre o acolhimento do novo colega. Todos se adaptaram bem. Yundula esteve um pouco com cada colaborador para aprender. Nós tentamos ensinar, mas muitas vezes acabamos aprendendo com ele. É o ciclo da vida”, conta Márcio.
Uma das maiores preocupações do gestor era como dar feedback ao novo funcionário. Márcio conta que foi mais uma vez surpreendido. “Ele quis logo saber do feedback negativo, para se focar no que ele precisaria melhorar. Yundula é uma pessoa batalhadora, que luta pelos seus objetivos, é inteligente e que tem muito a agregar na equipe. Só o fato de ter tomado a decisão de vir, já faz dele uma pessoa de coragem, um vencedor”.
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